Mudança climática: uma barreira na agenda do desenvolvimento
O documento Brasil 2040 sinaliza algum avanço no enfrentamento da mudança climática
Por Patricia Raposo
A mudança do clima global tem demonstrado sua força nos impondo inúmeros desafios. Exemplos não faltam, mas é emblemático o caso do Rio Grande do Sul. Vítimas agora de enchentes que causaram uma das maiores catástrofes naturais no Brasil, os gaúchos também amargaram, em 2022, prejuízos bilionários com uma seca devastadora. Duas situações extremas e opostas em cerca de dois anos, no mesmo local.
Não é preciso muito esforço para lembrar das recentes situações de calamidade em diversas localidades do Brasil, inclusive no Recife.
Em maio de 2022, a capital pernambucana sofreu com as fortes chuvas que causaram 140 mortes e deixaram 122 mil pessoas desalojadas, 68 mil casas danificadas, três mil delas completamente destruídas, conforme dados do Sistema Integrado de Informações a Desastres (S2iD) do Ministério de Integração e Desenvolvimento Regional.
Os prejuízos no Rio Grande do Sul foram estimados em R$ 19 bilhões só com a reconstrução da infraestrutura pública. O custo global ainda precisa ser calculado.
O setor de seguros, por exemplo, espera prejuízos bilionários com a tragédia gaúcha. Na seca de 2022, foram desembolsados R$ 8,9 bilhões em indenizações ao setor agrícola, conforme a Federação Nacional das Seguradoras.
Agora, a tragédia abraça coberturas variadas, como residências, carros e lucros cessantes, entre outros, o que deixará as cifras bem mais robustas.
Há poucos dias, em entrevista ao Movimento Econômico, o secretário da Fazenda de Pernambuco, Wilson José de Paula, defendeu que o estado de Pernambuco crie uma poupança para enfrentar contratempos como as catástrofes climáticas.
Poucos estados possuem poupança no Brasil, e menos ainda têm algum plano para enfrentar as surpresas desagradáveis que as mudanças climáticas estão trazendo com muita velocidade e força.
O que aconteceu no estado gaúcho demonstra que a mudança climática não pode ser desconsiderada na trajetória de desenvolvimento do Brasil ou de qualquer país.
No entanto, o documento “Brasil 2040: cenários e alternativas de adaptação à mudança do clima”, divulgado pela Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, sinaliza algum avanço no enfrentamento da mudança climática.
Como a modelagem climática global é um campo de desenvolvimento recente e gera inúmeras incertezas sobre o comportamento futuro de variáveis antrópicas, o estudo - que deu origem ao documento Brasil 2040 – contou com a participação de diversas instituições, em diversas áreas do conhecimento humano, tais como engenharias, agricultura, economia, recursos hídricos, climatologia e sociologia.
Seis subtemas
As pesquisas foram desenvolvidas para subsidiar processos relevantes no âmbito da Política Nacional sobre Mudança do Clima, em particular, o Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima, ainda em fase de conclusão no governo federal. O projeto considera 6 subtemas: cenários climáticos, recursos hídricos, infraestrutura urbana e costeira, agricultura, transporte e energia.
Seu principal objetivo é embasar a construção das estratégias de adaptação, já que tudo é incerto quando se trata de clima. Nestas condições, segundo o estudo, o máximo possível a que se pode chegar é indicar tendências e ordens de magnitude dos impactos, para que ao menos os governos e empresas possam estimar possíveis danos, saindo daquela zona escura que nos deixa sem direção.
A despeito das eventuais lacunas que esse material inédito no Brasil possa conter, seus resultados demonstram que é preciso não só incorporar as mudanças climáticas no planejamento de longo prazo, mas também avançar em ações que aumentem a resiliência das estruturas econômicas e sociais de estados e municípios, não só deixado o país preparado para o pior, mas contribuindo para seu desenvolvimento sustentado. É leitura obrigatória em tempos de catástrofes climáticas.